LUIZ LOPES DA SILVA SOBRINHO, Luiz Sobrinho, ou simplesmente Bebé, foi o homem mais inteligente e corajoso que conheci. A primeira vez que o vi foi em 1962. Eu disputava o cargo de deputado estadual, ao lado de outro gigante, Grimaldi Ribeiro de Paiva.
Eu já disputara o cargo de vereador nas eleições de 1958, quando o então ex-deputado Antônio Rodrigues de CarvalhoIZ LOPEenfrentou o Dr. Francisco Duarte Filho, na sua primeira disputa à Prefeitura de Mossoró. Os comícios do Doutor Duarte eram animados pelo "Pisa na Fulô", enquanto os de Toinho o eram pelo "Pisa no Capim".
Desde aquele primeiro encontro com Luiz, antevi que o seu porvir seria tão repleto de lutas, decepções e glórias que me senti diante de um novo Dom Quixote.
Luiz era o 2o dos 12 filhos do agricultor Manoel Ferreira da Silva e dona Maria Lopes, tido como nascido em Mossoró, em 23 de junho de 1939, no bairro Alto da Conceição, embora alguns afirmassem ser ele nativo de um dos muitos sítios do Vale do Apodi (Soledade, Santarem, São Geraldo ou Apanha Peixe). De qualquer forma, todos eles, desde a infância até a adolescência, limitavam-se a ajudar o pai na agricultura de subsistência que mantinha no terreiro de sua casa. Por isso, quase todos chegavam à adolescência sabendo pouco mais que as primeiras letras. Luiz era o único que não se conformava com a ausência de perspectivas de um futuro menos sombrio e, por isso, esperneava, indo e vindo pra lá e pra cá, sempre irrequieto, alternava suas prioridades: ora queria estudar, ora ganhar dinheiro; desaguando tudo no único desideratu: mudar o seu destino.
Por sua queda para a poesia, seu principal passatempo eram as cantorias, os desafios de cantadores de viola, freqüentes nas feiras suburbanas e nas cidades periféricas e, aqui acolá - durante os intervalos - pegava a viola de um ou outro violeiro para também versejar, quase sempre recebendo palavras de incentivo para que viesse a integrar a confraria.
Perseguindo a todo custo realizar o acalentado sonho, tão logo juntou alguns trocados, adquiriu sua 1a viola, com a qual se iniciou na arte dos desafios. Logo fez sucesso nos bares e bodegas da periferia da cidade e nas feiras do interior.
Sua fama de repentista luzido e inteligente logo se propagou por toda a região, fazendo-o começar a sonhar com a política.
Em 1966, conseguiu seu primeiro emprego na Escola Estadual Jerônimo Rosado (operador de mimeógrafo), resolvendo investir o minguado salário em sua educação, submeteu-se ao exame de admissão ao curso básico da União Caixeiral, obtendo aprovação e concluindo, com brilhantismo, o curso de licenciatura em Técnicas Comerciais, passando (na Jerônimo Rosado) ao cargo de professor com licenciatura em Técnicas Comerciais e, pari passu começou a fazer a escrituração de pequenas empresas e declarações do imposto de renda. Apesar do novo status, continuou na Jerônimo Rosado até se eleger deputado em 1974.
Em 1968 disputou sem êxito uma vaga à Câmara Municipal. Em 1970, o então vereador Manoel Mário de Oliveira desistiu de concorrer à reeleição, passando a apoiar Luiz, que se elegeu o 2o mais votado do partido, superado apenas por Elviro Rebouças, assumindo a vice-liderança do partido, ao lado deste.
Henrique, filho do então cassado ex-governador Aluízio Alves, com seus atributos pessoais, tornara-se o deputado federal mais votado de todos os tempos nas eleições de 1970, conquistando a condição de herdeiro político de Aluízio, substituindo-o na Liderança da Oposição, repetindo o feito nas eleições de 1974; em face do que, todo político da época almejava tê-lo no seu palanque.
Ante a expectativa da candidatura do colossal Dix-huit Rosado a prefeito de Mossoró, nas eleições de 1972, o MDB se fixara, desde 1970, no nome de Padre Américo Simonetti, como o único capaz de enfrentá-lo, com alguma chance de vitória.
Pe. Américo nunca dera qualquer esperança de vir a aceitar o desafio, até porque entendia que seu eventual engajamento em campanhas políticas poderia desvirtuar seu trabalho em prol das comunidades de base, que capitaneava nos vales dos rios Assu e Apodi-Mossoró, pelas ondas da Emissora de Educação Rural de Mossoró.
Diante disso, eu e Elviro passamos a reivindicar a indicação do MDB para enfrentar Dix-huit, como forma de levarmos adiante nossas pretensões políticas: um mandato de deputado estadual.
Todavia, tanto eu quanto Elviro fomos "queimados" na Convenção do MDB, tendo aquele rompido com o partido, aderido à ARENA e apoiado Dix-huit, enquanto eu contemporizei, aceitando o nome de Lauro Filho e candidatando-me a vereador, tendo concorrido dentre outros com Luiz Sobrinho, suplantando sua votação.
Luiz, apesar de haver conquistado então seu 2o mandato, não chegou a reivindicar a Liderança do MDB, pois com suas notórias humildade e grandeza indicou o meu nome à Liderança do partido e da Bancada da Oposição, contentando-se com a vice-liderança.
Nossa convivência foi extremamente fraterna e leal. Sempre muito atuante, Luiz credenciou-se a disputar, no futuro, seu tão sonhado mandato de deputado estadual.
No episódio das enchentes do rio Mossoró em 1974, ao defender o prefeito Dix-huit Rosado - que fora vítima de um Coronel da Polícia que respondia pela Liga da Defesa Civil do Estado - fui vítima da maledicência de um vereador ignóbil, não contei com a mínima iniciativa de Vingt-un (Líder da Arena e do prefeito) para debelar o mal-entendido. Ao contrário, Vingt-un apressou-se em ir ao Gabinete do Secretário de Administração, Raimundo Willame Girão para, juntos, arquitetarem a extinção do meu mandato. Para tanto, urdiram um caviloso "Voto de Desagravo" ao Brigadeiro Everaldo Breves (então Comandante do CATRE), sem outro objetivo senão o de me jogar contra a elevada autoridade militar. Passados poucos dias, surpreendentemente, uma guarnição da Polícia Federal aportou em Mossoró, para me levar preso para a capital. Enquanto permaneci detido no aeroporto local, alguns policiais federais foram à Câmara Municipal tomar depoimentos dos vereadores sobre o incidente. Luiz Sobrinho foi o único a me defender, buscando convencê-los de que tudo não passara de uma cilada.
Após sua reeleição como vereador em 1972, Luiz - cuja verve era de todos reconhecida - na época fazia a contabilidade da empresa Sinésio Vitalino & Apolônio Germano e, por seus méritos de repentista e orador eloqüente, ganhou a simpatia de Apolônio, que passou a pensar em ajudá-lo em sua pretensão de conquistar um mandato de deputado nas eleições de 1974, visando a contar com sua participação na campanha do irmão Dudu a prefeito de Portalegre no pleito de 1976.
Assim, em 1974, Luiz apoiou Henrique, recebendo, ambos, o apoio incondicional de Apolônio. Tão logo se elegeu deputado, Luiz casou com Adalzirene, com quem já era noivo há vários anos. No exercício do mandato de deputado, Luiz foi insistentemente assediado pelo colega Dalton Cunha, com vistas a fechar Apodi a futuras investidas de candidatos alienígenas, eis que haviam liderado a votação no Município-Líder do Vale do Apodi, nas respectivas legendas (MDB e ARENA). Certo dia, Luiz apresentou requerimento ao Governador Tarcísio Maia, pedindo o asfaltamento do acesso à cidade serrana de Martins. Dalton, sempre atento, perguntou-lhe de súbito se sabia quantos carros subiam a serra, por dia, cujo volume pudesse justificar o investimento. Luiz, que não dispunha de qualquer dado a respeito, virou-se e viu pelas vidraças, que chovia copiosamente na capital e, sem pestanejar, com sua extraordinária rapidez de raciocínio, respondeu-lhe: "Posso informar a V. Exa. que, num dia como o de hoje, nem uma simples carroça consegue subir a serra!"
Resultado: o pleito de Luiz foi prontamente atendido pelo saudoso governador, resultando daí o asfaltamento dos acessos a todas as cidades do Médio e Alto Oeste, o que incrementou o desenvolvimento da Indústria do Turismo no Estado, ante a conseqüente implantação de uma rede de hotéis no interior do Estado, dentre os quais, o Thermas de Mossoró, os de Alexandria, Martins, Umarizal, São Miguel, Olho d'Água do Milho, Areia Branca, Tibau, Caraúbas e tantos outros.
Preparando-se para a luta por sua reeleição em 1978, em 1975, Luiz fundou vários diretórios do MDB, nas cidades da zona Oeste, onde as lideranças políticas tradicionais insistiam em continuar divididas entre as siglas Arena-1 e Arena-2, como forma de manterem suas adversidades políticas locais, amparados, uns e outros, pelas benesses do poder revolucionário central. Na vez de Portalegre, onde Dudu Germano pretendia se candidatar a prefeito em 1976, após obter as filiações necessárias, Luiz foi ao Cartório de Umarizal (da sede da comarca), dá entrada nas fichas do MDB, onde já o esperava o então prefeito de Umarizal,José de Souza Martins, Zezito, (guarnecido por vários moradores do seu sogro) de inopino, investiu contra Luiz dando-lhe um murro, arrebatando-lhe e tentando rasgá-las, para que o MDB ali não fosse fundado. Luiz reagiu, dando-lhe um chute e, quando os moradores de Zezito já iam entrar na peleja, Apolônio e Dudu intervieram para que Luiz não fosse massacrado.
Em março de 1978 - no último ano do seu mandato - Luiz Sobrinho regressava às pressas de Mossoró para participar da sessão noturna da Assembléia Legislativa, quando, nas proximidades de Lajes, seu volkswagen foi esmagado por um caminhão, tendo tal sinistro prejudicado sensivelmente sua campanha pela reeleição, pois, pelas múltiplas fraturas sofridas, permaneceu convalescente durante vários meses.
Todavia, a verdadeira razão de nossa não-reeleição foi o chamado "Acordão da Paz Pública", celebrado em 1978 entre Aluízio e o governador Tarcísio Maia, em que Aluízio, por Cr$ 10.000.000,00 (dez milhões de cruzeiros) traiu os três candidatos do MDB (Odilon, Chico Rocha e Radir Pereira) para apoiar Jessé.
Embora no primeiro instante tenhamos resistido às pressões de Aluízio, terminamos sucumbindo, diante de suas ameaças de acusar-nos de havermos bandeado para o lado do deputado Vingt Rosado, porque este, diante do "Acordão", deixara de apoiar Jessé e passara a apoiar os três candidatos do MDB.
Mas a pior conseqüência do famigerado "Acordão da Paz Pública" foi o fato de, nos Grandes Comícios da espúria Aliança, o único candidato de Mossoró que tinha o Direito de Discursar era Leodécio (por ser primo da "Senadora" Edite Souto), ficando eu, Luiz Sobrinho e Manoel Mário proibidos de falar, enquanto nossos concorrentes da Zona Oeste, como Patrício Júnior, Alcimar Torquato e tantos outros, falavam e pediam votos para eles, enquanto a multidão nos acenava, indagando-nos o porquê de nós também não falarmos, se éramos ou não candidatos à reeleição.
Luiz, na luta pela sobrevivência, era um obstinado, um guerreiro, um verdadeiro herói. Enfrentou todas as vicissitudes, com o maior estoicismo. Nos idos de 1967 (antes de exercer qualquer cargo público ou Mandato Eletivo), fundou, no bairro Alto da Conceição, a Escola Monsenhor Mota, em cujo educandário também funcionava o Clube Social e Cultural do mesmo nome, que permaneceu funcionando até 1974, quando se elegendo deputado, passou a instituição - da qual era Presidente Vitalício - para a administração da professora Onélia Andrade.
Hoje, a instituição funciona no bairro Abolição I, tendo sido encampada pela Prefeitura de Mossoró, na administração João Newton da Escóssia.
Luiz também foi professor do ensino médio do Estado, lecionando História do Brasil e História Geral durante muitos anos, em vários educandários.
Após perder a campanha por sua reeleição, Luiz foi amparado pelo governador Lavoisier Maia, que o nomeou supervisor da Caderneta de Poupança Bandern, onde permaneceu por vários anos; mas, por perseguição política, foi transferido para agência do Banco em Areia Branca, tendo que fazer, diariamente, o percurso de ida e volta e, ao regressar a Mossoró, nem tinha tempo de jantar, pois ia diretamente para o Centro de Educação Integrada Professor Eliseu Viana, onde exercia o magistério. Nessa época, também por perseguição política, foi demitido do Bandern.
Ainda no governo Lavoisier Maia, quando Luiz Sobrinho foi gerente da Ceasa e da Cobal, época em que, para complementar a renda familiar, montou uma pequena churrascaria, denominada "O TRONCO", nas imediações do bairro Aeroporto.
No 3o ano do governo Garibaldi Filho (padrinho de Cláudio - 1o filho de Luiz), ao ser inaugurada a Central do Cidadão de Mossoró, Luiz Sobrinho foi nomeado seu diretor, não tardando a ser trocado por Maria Natália Bezerra, correligionária dos Rosados, sendo Luiz encaminhado à Penitenciária Dr. Mário Negócio, onde, segundo a deputada Sandra Rosado, iria exercer a função de Chefe da Assessoria Jurídica. Ali desenvolveu a atividade por mais de seis meses, sem nunca ter sido consumada sua regularização, nem ter recebido um só salário, sendo obrigado a abandonar o cargo.
Nos seus dois mandatos de vereador, Luiz foi presidente das Comissões de Agricultura Educação Saúde e de Constituição e Justiça e ajudou a criar a Associação de Direitos Humanos/RN de Mossoró.
Quando deputado à Assembléia Legislativa, foi 2o secretário, presidente da Comissão de Redação Final, vice-presidente da Comissão de Educação e Membro da Comissão de Desenvolvimento e Obras.
Luiz foi também presidente dos clubes esportivos Baraúnas e Ferroviário.
Na sua incansável luta pela sobrevivência, Luiz - sem nunca ter estudado Química - após sua não-reeleição, fez as vezes de Químico-Industrial, passando a fabricar, nos fundos de sua casa - de forma artesanal - um produto de sua criação, a "Água Sanitária Belga".
Àquela época, era ele quem ia, no seu modesto Volkswagen, a toda zona rural do município (Baraúna, Alagoinha, Juremal, Sítio Estreito, Jucuri, Passagem de Pedras etc.), entregar, pessoalmente, de porta em porta, toda sua produção.
Como começou a obter resultados promissores, retirou seus tanques de casa e os reinstalou na Rua Segundo Marques, aumentando sua produção e passando a produzir, também um novo produto de sua criação: o "Tempero Pronto Belga". A partir de então, embora sua responsabilidade fosse maior, eis que passara a fabricar produto alimentício, ainda era ele seu próprio "químico industrial".
Tendo a aceitação de sua produção crescido constantemente, investiu na aquisição de um terreno, no Distrito do Jucuri, nas imediações da Fábrica de Cimento Nassau, onde edificou as instalações próprias da "Indústria de Tempero Belga", quando, finalmente, contratou um químico industrial, responsável por sua produção.
Nos últimos meses a "Indústria de Temperos Belga" começou a enfrentar algumas dificuldades financeiras decorrentes do momento de instabilidade econômica que se abateu sobre o país.
Assim, por tudo que se viu, não há quem possa negar que Luiz Sobrinho foi, sem nenhuma dúvida, um verdadeiro herói, vencendo em tudo que entendeu de realizar.
Que seu exemplo de obstinação e pertinácia seja adotado por todos aqueles que, como ele, precisem enfrentar as vicissitudes da vida; afinal, ninguém melhor do que ele pode deixar um legado tão grande aos seus filhos e amigos.
Sempre incansável, Luiz formou-se em Direito em 1994 e, até seu falecimento, era Advogado Orientador da Prática Jurídica da Uern, além de exercer a advocacia em parceria com sua filha e também advogada, a Dra. Clautia Sheila Nunes de Carvalho Lopes.
Quem melhor do que Luiz Lopes da Silva Sobrinho pode servir de exemplo da vitória do trabalho pela perseverança?
Além de tudo, Luiz foi, também, professor do Centro de Educação Integrada Professor Eliseu Viana e das Escolas Estaduais Lavoisier Maia e Abel Coelho. Até o seu falecimento, Luiz residia na Rua Sebastião Dias, no 84, no bairro Nova Betânia. Luiz deixou sua esposa, a professora Adalzirene Nunes de Carvalho Lopes, também incansável guerreira e emérita poetisa, além de três filhos: Cláudio Luiz, Humberto Luiz e Clautia Sheila.
Completando suas incontáveis facetas, Luiz Sobrinho também escreveu um livro "Cobra, Cachorro e Gente", que foi lançado em memorável Noite de Autógrafos no luxuoso Requint Buffet, contando com a presença de figuras das mais representativas do mundo social e cultural de Mossoró.
Luiz Sobrinho, eis aí um homem completo: bom filho, bom pai, bom amigo: Um Homem com "H" maiúsculo!
Por tudo isso, Viva Luiz Lopes da Silva Sobrinho, o nosso pranteado e saudoso Herói.
FONTE: JORNAL O MOSSOROENSE (17/10/1872)
Eu já disputara o cargo de vereador nas eleições de 1958, quando o então ex-deputado Antônio Rodrigues de CarvalhoIZ LOPEenfrentou o Dr. Francisco Duarte Filho, na sua primeira disputa à Prefeitura de Mossoró. Os comícios do Doutor Duarte eram animados pelo "Pisa na Fulô", enquanto os de Toinho o eram pelo "Pisa no Capim".
Desde aquele primeiro encontro com Luiz, antevi que o seu porvir seria tão repleto de lutas, decepções e glórias que me senti diante de um novo Dom Quixote.
Luiz era o 2o dos 12 filhos do agricultor Manoel Ferreira da Silva e dona Maria Lopes, tido como nascido em Mossoró, em 23 de junho de 1939, no bairro Alto da Conceição, embora alguns afirmassem ser ele nativo de um dos muitos sítios do Vale do Apodi (Soledade, Santarem, São Geraldo ou Apanha Peixe). De qualquer forma, todos eles, desde a infância até a adolescência, limitavam-se a ajudar o pai na agricultura de subsistência que mantinha no terreiro de sua casa. Por isso, quase todos chegavam à adolescência sabendo pouco mais que as primeiras letras. Luiz era o único que não se conformava com a ausência de perspectivas de um futuro menos sombrio e, por isso, esperneava, indo e vindo pra lá e pra cá, sempre irrequieto, alternava suas prioridades: ora queria estudar, ora ganhar dinheiro; desaguando tudo no único desideratu: mudar o seu destino.
Por sua queda para a poesia, seu principal passatempo eram as cantorias, os desafios de cantadores de viola, freqüentes nas feiras suburbanas e nas cidades periféricas e, aqui acolá - durante os intervalos - pegava a viola de um ou outro violeiro para também versejar, quase sempre recebendo palavras de incentivo para que viesse a integrar a confraria.
Perseguindo a todo custo realizar o acalentado sonho, tão logo juntou alguns trocados, adquiriu sua 1a viola, com a qual se iniciou na arte dos desafios. Logo fez sucesso nos bares e bodegas da periferia da cidade e nas feiras do interior.
Sua fama de repentista luzido e inteligente logo se propagou por toda a região, fazendo-o começar a sonhar com a política.
Em 1966, conseguiu seu primeiro emprego na Escola Estadual Jerônimo Rosado (operador de mimeógrafo), resolvendo investir o minguado salário em sua educação, submeteu-se ao exame de admissão ao curso básico da União Caixeiral, obtendo aprovação e concluindo, com brilhantismo, o curso de licenciatura em Técnicas Comerciais, passando (na Jerônimo Rosado) ao cargo de professor com licenciatura em Técnicas Comerciais e, pari passu começou a fazer a escrituração de pequenas empresas e declarações do imposto de renda. Apesar do novo status, continuou na Jerônimo Rosado até se eleger deputado em 1974.
Em 1968 disputou sem êxito uma vaga à Câmara Municipal. Em 1970, o então vereador Manoel Mário de Oliveira desistiu de concorrer à reeleição, passando a apoiar Luiz, que se elegeu o 2o mais votado do partido, superado apenas por Elviro Rebouças, assumindo a vice-liderança do partido, ao lado deste.
Henrique, filho do então cassado ex-governador Aluízio Alves, com seus atributos pessoais, tornara-se o deputado federal mais votado de todos os tempos nas eleições de 1970, conquistando a condição de herdeiro político de Aluízio, substituindo-o na Liderança da Oposição, repetindo o feito nas eleições de 1974; em face do que, todo político da época almejava tê-lo no seu palanque.
Ante a expectativa da candidatura do colossal Dix-huit Rosado a prefeito de Mossoró, nas eleições de 1972, o MDB se fixara, desde 1970, no nome de Padre Américo Simonetti, como o único capaz de enfrentá-lo, com alguma chance de vitória.
Pe. Américo nunca dera qualquer esperança de vir a aceitar o desafio, até porque entendia que seu eventual engajamento em campanhas políticas poderia desvirtuar seu trabalho em prol das comunidades de base, que capitaneava nos vales dos rios Assu e Apodi-Mossoró, pelas ondas da Emissora de Educação Rural de Mossoró.
Diante disso, eu e Elviro passamos a reivindicar a indicação do MDB para enfrentar Dix-huit, como forma de levarmos adiante nossas pretensões políticas: um mandato de deputado estadual.
Todavia, tanto eu quanto Elviro fomos "queimados" na Convenção do MDB, tendo aquele rompido com o partido, aderido à ARENA e apoiado Dix-huit, enquanto eu contemporizei, aceitando o nome de Lauro Filho e candidatando-me a vereador, tendo concorrido dentre outros com Luiz Sobrinho, suplantando sua votação.
Luiz, apesar de haver conquistado então seu 2o mandato, não chegou a reivindicar a Liderança do MDB, pois com suas notórias humildade e grandeza indicou o meu nome à Liderança do partido e da Bancada da Oposição, contentando-se com a vice-liderança.
Nossa convivência foi extremamente fraterna e leal. Sempre muito atuante, Luiz credenciou-se a disputar, no futuro, seu tão sonhado mandato de deputado estadual.
No episódio das enchentes do rio Mossoró em 1974, ao defender o prefeito Dix-huit Rosado - que fora vítima de um Coronel da Polícia que respondia pela Liga da Defesa Civil do Estado - fui vítima da maledicência de um vereador ignóbil, não contei com a mínima iniciativa de Vingt-un (Líder da Arena e do prefeito) para debelar o mal-entendido. Ao contrário, Vingt-un apressou-se em ir ao Gabinete do Secretário de Administração, Raimundo Willame Girão para, juntos, arquitetarem a extinção do meu mandato. Para tanto, urdiram um caviloso "Voto de Desagravo" ao Brigadeiro Everaldo Breves (então Comandante do CATRE), sem outro objetivo senão o de me jogar contra a elevada autoridade militar. Passados poucos dias, surpreendentemente, uma guarnição da Polícia Federal aportou em Mossoró, para me levar preso para a capital. Enquanto permaneci detido no aeroporto local, alguns policiais federais foram à Câmara Municipal tomar depoimentos dos vereadores sobre o incidente. Luiz Sobrinho foi o único a me defender, buscando convencê-los de que tudo não passara de uma cilada.
Após sua reeleição como vereador em 1972, Luiz - cuja verve era de todos reconhecida - na época fazia a contabilidade da empresa Sinésio Vitalino & Apolônio Germano e, por seus méritos de repentista e orador eloqüente, ganhou a simpatia de Apolônio, que passou a pensar em ajudá-lo em sua pretensão de conquistar um mandato de deputado nas eleições de 1974, visando a contar com sua participação na campanha do irmão Dudu a prefeito de Portalegre no pleito de 1976.
Assim, em 1974, Luiz apoiou Henrique, recebendo, ambos, o apoio incondicional de Apolônio. Tão logo se elegeu deputado, Luiz casou com Adalzirene, com quem já era noivo há vários anos. No exercício do mandato de deputado, Luiz foi insistentemente assediado pelo colega Dalton Cunha, com vistas a fechar Apodi a futuras investidas de candidatos alienígenas, eis que haviam liderado a votação no Município-Líder do Vale do Apodi, nas respectivas legendas (MDB e ARENA). Certo dia, Luiz apresentou requerimento ao Governador Tarcísio Maia, pedindo o asfaltamento do acesso à cidade serrana de Martins. Dalton, sempre atento, perguntou-lhe de súbito se sabia quantos carros subiam a serra, por dia, cujo volume pudesse justificar o investimento. Luiz, que não dispunha de qualquer dado a respeito, virou-se e viu pelas vidraças, que chovia copiosamente na capital e, sem pestanejar, com sua extraordinária rapidez de raciocínio, respondeu-lhe: "Posso informar a V. Exa. que, num dia como o de hoje, nem uma simples carroça consegue subir a serra!"
Resultado: o pleito de Luiz foi prontamente atendido pelo saudoso governador, resultando daí o asfaltamento dos acessos a todas as cidades do Médio e Alto Oeste, o que incrementou o desenvolvimento da Indústria do Turismo no Estado, ante a conseqüente implantação de uma rede de hotéis no interior do Estado, dentre os quais, o Thermas de Mossoró, os de Alexandria, Martins, Umarizal, São Miguel, Olho d'Água do Milho, Areia Branca, Tibau, Caraúbas e tantos outros.
Preparando-se para a luta por sua reeleição em 1978, em 1975, Luiz fundou vários diretórios do MDB, nas cidades da zona Oeste, onde as lideranças políticas tradicionais insistiam em continuar divididas entre as siglas Arena-1 e Arena-2, como forma de manterem suas adversidades políticas locais, amparados, uns e outros, pelas benesses do poder revolucionário central. Na vez de Portalegre, onde Dudu Germano pretendia se candidatar a prefeito em 1976, após obter as filiações necessárias, Luiz foi ao Cartório de Umarizal (da sede da comarca), dá entrada nas fichas do MDB, onde já o esperava o então prefeito de Umarizal,José de Souza Martins, Zezito, (guarnecido por vários moradores do seu sogro) de inopino, investiu contra Luiz dando-lhe um murro, arrebatando-lhe e tentando rasgá-las, para que o MDB ali não fosse fundado. Luiz reagiu, dando-lhe um chute e, quando os moradores de Zezito já iam entrar na peleja, Apolônio e Dudu intervieram para que Luiz não fosse massacrado.
Em março de 1978 - no último ano do seu mandato - Luiz Sobrinho regressava às pressas de Mossoró para participar da sessão noturna da Assembléia Legislativa, quando, nas proximidades de Lajes, seu volkswagen foi esmagado por um caminhão, tendo tal sinistro prejudicado sensivelmente sua campanha pela reeleição, pois, pelas múltiplas fraturas sofridas, permaneceu convalescente durante vários meses.
Todavia, a verdadeira razão de nossa não-reeleição foi o chamado "Acordão da Paz Pública", celebrado em 1978 entre Aluízio e o governador Tarcísio Maia, em que Aluízio, por Cr$ 10.000.000,00 (dez milhões de cruzeiros) traiu os três candidatos do MDB (Odilon, Chico Rocha e Radir Pereira) para apoiar Jessé.
Embora no primeiro instante tenhamos resistido às pressões de Aluízio, terminamos sucumbindo, diante de suas ameaças de acusar-nos de havermos bandeado para o lado do deputado Vingt Rosado, porque este, diante do "Acordão", deixara de apoiar Jessé e passara a apoiar os três candidatos do MDB.
Mas a pior conseqüência do famigerado "Acordão da Paz Pública" foi o fato de, nos Grandes Comícios da espúria Aliança, o único candidato de Mossoró que tinha o Direito de Discursar era Leodécio (por ser primo da "Senadora" Edite Souto), ficando eu, Luiz Sobrinho e Manoel Mário proibidos de falar, enquanto nossos concorrentes da Zona Oeste, como Patrício Júnior, Alcimar Torquato e tantos outros, falavam e pediam votos para eles, enquanto a multidão nos acenava, indagando-nos o porquê de nós também não falarmos, se éramos ou não candidatos à reeleição.
Luiz, na luta pela sobrevivência, era um obstinado, um guerreiro, um verdadeiro herói. Enfrentou todas as vicissitudes, com o maior estoicismo. Nos idos de 1967 (antes de exercer qualquer cargo público ou Mandato Eletivo), fundou, no bairro Alto da Conceição, a Escola Monsenhor Mota, em cujo educandário também funcionava o Clube Social e Cultural do mesmo nome, que permaneceu funcionando até 1974, quando se elegendo deputado, passou a instituição - da qual era Presidente Vitalício - para a administração da professora Onélia Andrade.
Hoje, a instituição funciona no bairro Abolição I, tendo sido encampada pela Prefeitura de Mossoró, na administração João Newton da Escóssia.
Luiz também foi professor do ensino médio do Estado, lecionando História do Brasil e História Geral durante muitos anos, em vários educandários.
Após perder a campanha por sua reeleição, Luiz foi amparado pelo governador Lavoisier Maia, que o nomeou supervisor da Caderneta de Poupança Bandern, onde permaneceu por vários anos; mas, por perseguição política, foi transferido para agência do Banco em Areia Branca, tendo que fazer, diariamente, o percurso de ida e volta e, ao regressar a Mossoró, nem tinha tempo de jantar, pois ia diretamente para o Centro de Educação Integrada Professor Eliseu Viana, onde exercia o magistério. Nessa época, também por perseguição política, foi demitido do Bandern.
Ainda no governo Lavoisier Maia, quando Luiz Sobrinho foi gerente da Ceasa e da Cobal, época em que, para complementar a renda familiar, montou uma pequena churrascaria, denominada "O TRONCO", nas imediações do bairro Aeroporto.
No 3o ano do governo Garibaldi Filho (padrinho de Cláudio - 1o filho de Luiz), ao ser inaugurada a Central do Cidadão de Mossoró, Luiz Sobrinho foi nomeado seu diretor, não tardando a ser trocado por Maria Natália Bezerra, correligionária dos Rosados, sendo Luiz encaminhado à Penitenciária Dr. Mário Negócio, onde, segundo a deputada Sandra Rosado, iria exercer a função de Chefe da Assessoria Jurídica. Ali desenvolveu a atividade por mais de seis meses, sem nunca ter sido consumada sua regularização, nem ter recebido um só salário, sendo obrigado a abandonar o cargo.
Nos seus dois mandatos de vereador, Luiz foi presidente das Comissões de Agricultura Educação Saúde e de Constituição e Justiça e ajudou a criar a Associação de Direitos Humanos/RN de Mossoró.
Quando deputado à Assembléia Legislativa, foi 2o secretário, presidente da Comissão de Redação Final, vice-presidente da Comissão de Educação e Membro da Comissão de Desenvolvimento e Obras.
Luiz foi também presidente dos clubes esportivos Baraúnas e Ferroviário.
Na sua incansável luta pela sobrevivência, Luiz - sem nunca ter estudado Química - após sua não-reeleição, fez as vezes de Químico-Industrial, passando a fabricar, nos fundos de sua casa - de forma artesanal - um produto de sua criação, a "Água Sanitária Belga".
Àquela época, era ele quem ia, no seu modesto Volkswagen, a toda zona rural do município (Baraúna, Alagoinha, Juremal, Sítio Estreito, Jucuri, Passagem de Pedras etc.), entregar, pessoalmente, de porta em porta, toda sua produção.
Como começou a obter resultados promissores, retirou seus tanques de casa e os reinstalou na Rua Segundo Marques, aumentando sua produção e passando a produzir, também um novo produto de sua criação: o "Tempero Pronto Belga". A partir de então, embora sua responsabilidade fosse maior, eis que passara a fabricar produto alimentício, ainda era ele seu próprio "químico industrial".
Tendo a aceitação de sua produção crescido constantemente, investiu na aquisição de um terreno, no Distrito do Jucuri, nas imediações da Fábrica de Cimento Nassau, onde edificou as instalações próprias da "Indústria de Tempero Belga", quando, finalmente, contratou um químico industrial, responsável por sua produção.
Nos últimos meses a "Indústria de Temperos Belga" começou a enfrentar algumas dificuldades financeiras decorrentes do momento de instabilidade econômica que se abateu sobre o país.
Assim, por tudo que se viu, não há quem possa negar que Luiz Sobrinho foi, sem nenhuma dúvida, um verdadeiro herói, vencendo em tudo que entendeu de realizar.
Que seu exemplo de obstinação e pertinácia seja adotado por todos aqueles que, como ele, precisem enfrentar as vicissitudes da vida; afinal, ninguém melhor do que ele pode deixar um legado tão grande aos seus filhos e amigos.
Sempre incansável, Luiz formou-se em Direito em 1994 e, até seu falecimento, era Advogado Orientador da Prática Jurídica da Uern, além de exercer a advocacia em parceria com sua filha e também advogada, a Dra. Clautia Sheila Nunes de Carvalho Lopes.
Quem melhor do que Luiz Lopes da Silva Sobrinho pode servir de exemplo da vitória do trabalho pela perseverança?
Além de tudo, Luiz foi, também, professor do Centro de Educação Integrada Professor Eliseu Viana e das Escolas Estaduais Lavoisier Maia e Abel Coelho. Até o seu falecimento, Luiz residia na Rua Sebastião Dias, no 84, no bairro Nova Betânia. Luiz deixou sua esposa, a professora Adalzirene Nunes de Carvalho Lopes, também incansável guerreira e emérita poetisa, além de três filhos: Cláudio Luiz, Humberto Luiz e Clautia Sheila.
Completando suas incontáveis facetas, Luiz Sobrinho também escreveu um livro "Cobra, Cachorro e Gente", que foi lançado em memorável Noite de Autógrafos no luxuoso Requint Buffet, contando com a presença de figuras das mais representativas do mundo social e cultural de Mossoró.
Luiz Sobrinho, eis aí um homem completo: bom filho, bom pai, bom amigo: Um Homem com "H" maiúsculo!
Por tudo isso, Viva Luiz Lopes da Silva Sobrinho, o nosso pranteado e saudoso Herói.
FONTE: JORNAL O MOSSOROENSE (17/10/1872)
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